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Tinha 834 presépios e orgulhava-se da sua colecção. Conhecia-os todos, de um para outro. Local onde adquirira este, preço que dera por aquele. Dona Adalgisa podia definir-se assim: solteirona (pelo menos homem não se lhe conhecia, só se fosse cego) 56 anos, esqueleto quase sempre coberto de preto, rata de sacristia e comia um bolo de arroz ao pequeno-almoço no café do Rosmaninho. Ressalve-se, um bolo, uma meia de leite e aos dias feriados um pãozinho com manteiga ou margarina, mais barata. Mas, agora aproximava-se pé ante pé o Natal. Bacalhau, sozinha? Não tinha contas bancárias; com o pouco que amealhava comprava mais presépios. Por isso não tinha cepa ou pouca sequer.
Renegava como boa beata que era, essa ideia estapafúrdia de terem abolido os feriados religiosos; com os civis, vá que não vá, alguns diziam que eram republicanos, da maçonaria, o primeiro de Dezembro não era nada disso, era a data gloriosa da Restauração da Independência de Portugal em 1640. No resto, podiam bem ser dispensados, a começar no 5 de Outubro, que até estátua tinha. Comemorar o 25 de Abril que fora a desgraça de muitos bons chefes de família? Ná.
Do pouco que conseguia arranjar lá vinha mais um estábulo com o Menino nas palhinhas, para além do óbolo para as vocações sacerdotais não gastava um cêntimo e se houvera moeda de meio, também isso aconteceria. O quarto andar sem elevador em que morava, comprara-o o tio Hermínio, já falecido e que em testamento lho doara. Conta-se que quando os Reis Magos chegaram ao estábulo viram o Menico ladeado por um burro e uma vaca. O Baltazar perguntou:É isto a companhia de Jesus? Os jesuitas não gostam...
Esmolas nem vê-las os pedinchões tinham bom corpo para trabalhar. Dizia a tia Pulquéria que o trabalho dava saúde e bufava quando ouvia o irmão, o tio Marcelino, regougar completando o dito, sendo assim, que trabalhem os doentes. Marcelino sempre fora a ovelha negra da família, por vezes ela até ficava envergonhada por ter um tio malandro – que era o que era, um vadio sem eira nem beira, jogador e espanholas de Carcavelos.
O prior padre Santana deu por falta dela, já há alguns dias os paramentos não tinham sido passados, o cálice das hóstias não estava polido e sobretudo o vinha de missa era uma zurrapa. Tentou averiguar o que lhe teria acontecido, perguntou às vizinhas se tinham dado conta dela, que não, ninguém a vira, podia estar doente e como vivia sozinha… Mas cheirava mal do apartamento, muito mesmo. Chegaram os bombeiros para arrombar a porta, faltava a licença camarária e a autorização da PSP. Foram busca-las. Seis horas depois chegaram, com carimbos e tudo.
24 de Dezembro - Arrombada a porta, um cheiro nauseabundo. A pestilência vinha do quarto da Dona Adalgisa. Estava na cama rodeada de presépios e em estado de putrefacção adiantadíssimo. O senhor da Pê Jota durante as averiguações contou 833 presépios; tinham-lhe roubado um, o mais caro. A autópsia concluiu: estava morta; nenhum órgão vital fora atingido; no corpo não fora possível descobrir orifício de bala ou lenho de arma branca; nas vísceras nem sombra de arsénico, curare ou de outro qualquer veneno. Conclusão: tinha morrido de susto, de desgosto – e de fome.
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