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Mensagem de Boas Vindas

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Coisas do reino

por Henrique Antunes Ferreira, em 29.01.16

 

 

Curiosas as denominações das prendas que sempre trazemos para amigos e familiares a relembrar tempos passados que ficaram na terminologia de cá: azeite do reino, chouriços do reino, azeitonas do reino e claro bacalhau, mas este não é do reino. Ou seja, é capaz de ser, mas do “reino” actual que é uma república. Dom Duarte Pio de Bragança não é para aqui chamado embora seja considerado pelos monárquicos (poucos) pretendente ao “Reino” de Portugal e daí a referência a par do azeite, dos chouriços e das azeitonas.

 

Além disso há outros pretendentes, mas no caso presente são ao “reino” dos CD, DVD et aliud. Mesmo gente da alta, brâmanes incluídos, médicos, advogados, engenheiros, farmacêuticos e outros pedem-nos para trazer músicas interpretadas pelo Quim Barreiros, pelos Carreiras, pai e filho, pela Romana, Agata, Roberto Leal, Ruth Marlene, todos eles fazem parte daquilo que é conhecido como música pimba.

 

A caminho de Margão, a segunda cidade do estado de Goa, maior e mais importante no que respeita ao comércio, representações de firmas estrangeiras e outras coisas mais do que a capital Pangim, ou Ponjé (em concanim) ou Panaji (termo oficial, que quase só se utiliza em documentos ou letreiros oficiais) ou ainda a Nova Goa. Mas nesta é que está o poder – e o dinheiro do turismo e das minas. Goa é o menor dos estados da Índia, mas o que tem o PIB maior. No carro vou recordando o caminho musical a que tenho assistido desde 1980, a primeira vez que visitei o território.

 

Não me parece importante registar as épocas, mas recordo os cantores que durante estes 35 anos eram “encomendados” pelos respectivos fãs: à cabeça a Amália, e logo a seguir o Carlos Ramos, o Carlos do Carmo, a Hermínia, a Maria de Lourdes Resende, a Simone de Oliveira, a Madalena Iglésias, o Tony de Matos, o Tristão da Silva e etc. Era o fado no seu apogeu. Quando chegaram a Mariza, a Ana Moura, a Aldina Duarte, o Zambujo e o Camané, os goeses já não lhes ligaram grande importância.Adeus fado que te foste à vida... Tinham-se mudado para o pimba… Porém ainda há um concurso de fados. O mais curioso é que os intérpretes não falam… português!

 

Volto, entretanto, aos alimentos que vinham do reino e mantiveram essa denominação. É bem o exemplo da herança lusitana, a par com outras tais como as denominações de pratos da gastronomia goesa que tem pouco a ver com a indiana. O sarapatel é o descendente do sarrabulho, o vindalho é a vinha d’alho, a fijoada é feijoada, os croquetes picantes são os nossos croquetes com rolão (pão ralado) e tudo. São muitas as receitas dos portugas a que se juntaram os temperos da região.

 

No entanto, há um facto que me entristece. No Magson’s a maior cadeia alimentar da Índia e naturalmente de Goa. Nas suas prateiras pode encontrar-se azeite espanhol, italiano, grego, marroquino, tunisino, líbio e até argelino. Português, nicles. Queijos importados de todas as origens e paladares, da Serra nem vê-lo. Com as cervejas passa-se o mesmo. Só ano passado consegui descortinar garrafas minis de Super Bock. Aguardentes velhas ou novas nem com um telescópio…

 

Quem chega pela primeira vez a esta terra abre a boca de espanto ao dar com a farmácia João Silva ou a loja Lembrancas (faltam por cá os cês cedilhados, mas o til ainda se consegue arranjar), há o café Central e outro Real. No Jardim Garcia de Orta pode-se encontrar o clube Vasco da Gama. Muitos mais exemplos poderia o escriba alinhar, mas, para já, não pretendo fazer a lista telefónica que, por acaso – ou não – está bem recheada de Menezes, Mascarenhas, Gracias, Barbosas e, como não podia deixar de ser, Silvas e Xavieres. Isto porque o santo continua a ser o apóstolo das Índias e do restante Oriente…

 

Por ignorância congénita o autor confessa que - neste momento - não sabe como ilustrar este textículo. Quando souber - se algum dia souber... - voltará aqui para inserir as gravuras. Desculpem e muito obrigado

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