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Mensagem de Boas Vindas

Este blogue é feito por Amigos para Amigos, porque a Amizade é uma das melhores coisas da vida. Quem vier por bem será bem acolhido. Sejam bem vindos!

Testículos ou tomates

por Henrique Antunes Ferreira, em 29.05.16

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Na sala de espera do dentista onde me encontrava desde o Quaternário (impressão minha dada o atraso do ilustre clínico pois a consultava marcada para as 15:00 TMG e com o decorrer lento do tempo, já eram 22:30 também TMG) entrou um senhor preto de óculos escuros, vestindo um fato branco e sobraçando uma pasta Camel de cabedal puro. Do animal que o fornecera bem contra vontade, eu não fazia a mínima ideia; não sou especialista em couros, mas posso afiançar que não era imitação em plástico.

 

A empregada do atendimento, perguntada pelos doentes se o doutor já chegara, há horas que respondia que não, mas estava quase. Havia mais pessoas à espera do odontologista todas com cara de caso, lendo as tradicionais revistas de há dez meses – se não mais – jogando em smartfones, telefonando para um familiar que se encontrava na Patagónia, alguns ouvindo música através de auriculares, outros ainda classificando o atrasado com vocábulos impublicáveis mas com os quais  as parceiras e os parceiros concordavam. Enfim, o habitual.

 

  O senhor preto que entrara (que em linguagem politicamente correcta devia ter chamado africano, mas há-os

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também brancos, mestiços, mulatos e similares, por isso fico na minha e também porque sei que negro nos EUA é pejorativos, eles dizem black people) depois de se ter informado na menina do balcão deitou os olhos pela assistência em busca de cadeira. Mas, ai, estavam todas ocupadas…; por via disso o cliente num gesto de grande dignidade e alguma esperança decidiu-se por esperar de pé.


 No assento ao lado do meu encontrava-se um sujeito da minha colheita de quarenta que falava em decibéis bastante menos simpáticos. De quando em vez baixava o tom da voz e consultava o relógio, aliás um Rollex verdadeiro e em ouro, e murmurava um qualquer comentário mas mesmo assim perfeitamente audível. O médico atrasado creio que não gostaria de ouvi-lo até pelos calões que o cavalheiro usava. No entanto ouviam-se uns tem toda a razão.

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A empregada levantou-se e foi abrir a porta de entrada pela qual penetrou um homem com cara de assassino, ainda por cima mal disposto: era o estomatologista. Nem as boas noites deu, muito menos pediu desculpa do atraso. Há homens assim e por isso falei com os meus botões que o senhor Darwin tinha razão. Entrou no seu gabinete do tipo inquisitório qual Torquemada preparando mais um auto-de-fé.

 

Mesmo assim renasceu a esperança no atendimento embora bastante tardio e a gente entreolhou-se; uma senhora obesa avançou convictamente: era a primeira da lista de marcações que um computador apresentava. Nisto tocou o intercomunicador, a empregada travou a cliente e chamou o senhor de fato branco. Fechada a porta do consultório já com o cidadão lá dentro, o meu colega de assento falou alto e bom som que andara na guerra do Ultramar e para ele os pretos apenas eram alvos das G3.

 

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Não se ouviram aplausos mas a concordância era evidente; porém a recepcionista respondeu que o senhor de fato

branco e pasta Camel também andara na guerra colonial vestindo a farda do exército português e fora lá que uma mina lhe partira os maxilares e arrancara quase todos os dentes por ter-lhe rebentado na cara. E acrescentou que ainda fizera mais estragos: cegara-lhe uma vista partira-lhe uma perna e também ficara sem os testículos. Por isso passara à frente da restante clientela. Fez-se um silêncio na sala. E do fundo dela surgiu uma voz: agora é que vamos ver quem tomates - pretos?’

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O caso da caixa de fósforos

por Henrique Antunes Ferreira, em 22.05.16

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Era uma velha mercearia cujo dono, o senhor Vicente lutava todos os dias para manter a porta aberta. Num bairro de gente pouco abonada, uma classe baixa a descer para a miséria. Na linguagem das agências de notação (dizem que é o raiting que a população, incluindo o Senhor Vicente, não sabe que raio de coisa é) a classificação dos quarteirões e seus habitantes seria BB o que significa “lixo” É óbvio que há que ter muito cuidado quanto à forma cabalística que os financeiros usam a fim de baralhar os indefesos cidadãos. Que não ficam a perceber patavina dela.

 

Todas as manhãs ao correr a porta ondulada que fechava o estabelecimento à moda do antigamente, o senhor Vicente deitava uma vista de olhos pelas prateleiras onde se alinhavam (?) os produtos que vendia e só depois ia à arrecadação/escritório vestir a bata cinzenta com que se apresentava aos clientes. Se fosse no cinema dos anos quarenta seria o senhor Evaristo interpretado pela António Silva e a quem o Vasco Santana chateava com a pergunta provocatória ó Evaristo tens cá disto? Mas isso era no “Pátio das Cantigas”…

 

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Nessa manhã Vicente sobressaltou-se: faltava qualquer coisa; eram  as caixas de fósforos familiares e da marca Quinas. Não lhe faltavam todas mas simplesmente uma; ele sabia exactamente as quantidades das mercadorias. Se fosse um quilo de batatas que agora já vinham com preservativos de sacos de plástico era mais fácil dar pela falta, era só subtrair, quem de vinte tira um restam dezanove. Já com as caixas de fósforos dariam um trabalhão: teria de as contar para ver se nas fileiras faltava uma. Mas para Vicente não era necessário; bastava olhar para a prateleira e dar logo pelo hiato. E o problema era que faltava uma.

 

Não era caso para a Judite que os agentes haviam de rebolar-se a  rir de eventual queixa. Mas lá que faltava uma – faltava. O suspeito do crime de furto veio-lhe de imediato à cabeça: tinha de ser o Fagundes marçano militante que o ajudava e que por causa da crise tivera de despedir sem lhe pagar a indemnização devida e contemplada pela lei do trabalho, era ele, sem dúvida. E logo se lembrou de contactar o Calheiros, subchefe da Polícia reformado, a quem ofereceu uma ginjinha na taberna do Miranda mesmo ali ao lado.

 

Disse-lhe que lhe pagaria bem se descobrisse o mistério, aí coisa de cem euros por dia, evidentemente sem recibos verdes muito menos IVA. O antigo cívico tentou trava-lo, ó amigo Vicente, tanta preocupação por uma ninharia, uma caixa de fósforos…Mas era minha e aliás era do tamanho familiar: 50 amorfos. Bem tentou Calheiros dissuadi-lo, a malta vai gozar com essa encomenda; mas pensando bem sempre eram no mínimo cem euros / dia. Com despesas de alimentação? Coma o que você quiser com algumas excepções: lagosta, ostras ou caviar ou peito de faisão.

 

palitos

 

Calheiros deitou mãos à obra. Chovia e de que maneira. O dilúvio universal do senhor Noé era um niquinho comparado com os cordões de água desse dia. Mesmo assim foi falar com o Manuel Fagundes - que então já era empregado de mesa - que se encheu de gargalhadas, o Vicente é um somítico, tanta verborreia por uma caixa de fósforos. O tipo pôs-me na rua porque deu por conta que lhe tinham bifado umas merdinhas: palitos. Ainda se fossem de Paradela de Lorvão.. . Mas eram apenas chineses feitos de bambu. Nada, ele Fagundes não tinha nada que ver com fósforos mesmo sendo Quinas e de tamanho familiar. E deu-lhe um conselho: vá pregar para outra freguesia,

 

O subchefe reformado da PSP recolheu a penates um tanto cansado, desanimado e muito ensopado.  A dona Etelvina – sábia esposa – disse-lhe que ele estava a criar uma gripalhada. Se viesse com uma carraspana não seria pior. Já não comeu a sopa de alho porro e lá ficou carregado de espirros, A mulher meteu-o entre lençóis e receitou-lhe a mezinha  clássica, abafa-te, avinha-te e abifa-te; pôs-lhe dois cobertores de papa e preparou um grogue com muito chá de limão, mel e dois decilitros de medronheira vinda directamente do produtor, o pai dele era de Paderne, que lixe a ASAE. Meteu-lhe duas aspirinas no buxo e fez-lhe um bife do lombo com todos os matadores, sal, pimenta e alho à farta que o obrigou a comer. Durante a noite a febre que chegara aos 39,7 baixou à custa duma tal suadeira que levou a Etelvina a mudar-lhe o pijama.

 

Muito contra vontade dela, ainda apanhas uma pneumonia, anda por aí um andaço nos pulmões, Calheiros levantou-se, gabardina, cachecol e guarda chuva, embora já não chovesse, apenas pingolejava,  e decidiu-se pelas derradeiras diligências: ver se nas contas das caixas de fósforos Quinas, modelo familiar não se dera o caso de Vicente ter-se enganado nas contas. Debalde. Estava vencido, nunca tal lhe acontecera que se recordasse… Mas perseverou. Correu todos os estaminés do bairro inteiro e nicles.

 

seios

 

Até foi ao salão de beleza unissexo da Dona Deolinda. Não verdade não o levara ali a pega da caixa de fósforos. Foi ver a Gigi, uma mulata brasileira que lá trabalhava de manicura e de pedicura e que tinha um par de te…, oops, de olhos que até enfeitiçavam o cego Jeremias, de óculos escuros e que se safava fazendo uns recados com a bengala ás riscas vermelhas e brancas tentando o percurso 

 

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Entrou na mercearia e por descargo da consciência foi ao cubículo a que Vicente da Purificação chamava escritório e mal abriu a porta cheirou-lhe a ovos podres. Mirou e remirou e finalmente descobriu o caso. Então informou Vicente que estava encontrado o ladrão: era uma ratazana que era inquilina da mercearia, farta de queijo flamengo e de chouriço de Portalegre experimentara os fósforos. Como é que você fez isso? Bem merece os duzentos euros (relembra-se que tinham sido dois dias de pesquisa ingrata, dois dias em que dera o melhor do seu esforço e da sua pituitária…) O agente reformado respondeu fui dar com ela deitado de pernas para o ar debaixo da prateleira das facturas. Tinha sido envenenado pela ingestão dos amorfos e podia assegurar-lhe que a falecida estava devida e definitivamente morta.     

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O estranho caso do colchão de praia

por Henrique Antunes Ferreira, em 17.05.16

 

Trazia um cavalete de pintor conveniente e cuidadosamente dobrado debaixo de um braço cuja mão segurava um

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banco de lona e pernas metálicas igualmente fechado e na outra mão uma tela enrolada e segura por elásticos que a agarravam. Na mochila, pelo volume que faziam era de certeza uma caixa de tintas e duas ou três paletas bem como espátulas de diversos tamanhos e uma parafernália de lápis de muitos números de grafite preta e outros de cores, canetas de ponta de feltro diversas, esferográficas, apara-lápis, por certo algumas borrachas e claro que também um canivete do exército suíço.

 

Eu estava a picnicar com a Clarissa – a minha namorada – tínhamos estendido no chão uma toalha onde carreiros de formigas tentavam comer umas sandes de presunto com manteiga, uns pastéis de Belém, mais um tigela de salada com muito pepino e pimentos grelhados (há que dizer que os perfeitamente nus fazem-me mal ao fígado). Obviamente duas garrafas de rosé, gelo e uns refrigerantes e umas garrafas de Pedras para rebater.

 

Resultado de imagem para colchões de praia no campoDe estranho só se vislumbrava um colchão de praia azul escuro em que a minha querida estava sentada cruzando as pernas mais apetitosas do que as sandochas. Para quê um artefacto próprio para um homem se aventurar nas salsas ondas sem saber nadar naquele local campestre? Pergunta justificada pois a Clarissa e eu estávamos sentados e descontraídos no colchão debaixo dum pinheiro bravo cujas agulhas picavam como acontece habitualmente com as agulhas de… coser. Daí que o colchão servia a dada altura do repasto não para dormir a sesta – ainda que modelo casal – mas para praticar ginástica apetencialmente procriadora ao ar livre.

 

O homem era mesmo um pintor, armou o cavalete botou-lhe a tela, desenroscou o banco, sentou-se de paleta na mão direita, então o tipo era canhoto, pois fazia tudo (que se visse) com a mão esquerda. E começou a desenhar a carvão um esboço de um casal em vias de facto. Muito devagar. Presumi que estava à espera que lhe surgisse um qualquer modelo, no caso dois porque o estado de criação não avançava ou se avançasse seria a passo de caracol. 

 

Não me contive, cheguei-me a ele, boa tarde, ó senhor pintor vai ter esperar muito porque nós viemos picnicar e somos como são os alentejanos que no fim dum dia de trabalho tiram as mãos dos bolsos… Então para que é o colchão? É só para fazer publicidade aos colchões de praia Hámar . Mas não tem nada escrito… Pois não é uma campanha para cegos.

 

O pintor desfez o que tinha feito e zarpou se sequer se despedir. E a Clarissa e eu deixámos as formigas no campo de batalha e fomos  fazer o programado ou seja batalhar no colchão. De praia – no campo

 

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Debruado a rugas

por Henrique Antunes Ferreira, em 12.05.16

AVISO AOS INTERESSADOS E ATÉ AOS DESINTERESSADOS:

Este post tem apenas umas pinceladas políticas; não parece bem

ao modesto autor dele que seja muito saudável bater e rebater

questões que vão dos Panama Paper’s (onde o Senhor Ângelo Correia

nunca participou, segundo declaração do Senhor Ângelo Correia)

até aos erros ou os sucessos deste Governo, e a frenétíca presidência

do Senhor Marcelo Rebelo de Sousa

passando pelo fel destilado pelo Senhor Passos Coelho

em cada discurso ou comentário que faz…

 

 

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Antunes Ferreira

Comparar o velho debruado a rugas com Noé era exemplo de asneira; o homem da arca vivera até aos 950 anos tornado exímio desengarafador de tinto, branco, rosé ou verde. Se o fizermos com Matusalém, o resultado ainda é pior. De acordo com a Bíblia – Antigo Testamento, citado no Génesis 5:21-27 e transcrevendo a Wikipédia, o nosso personagem terá sido avô de Noé e falecido no ano em que começou o Diluvio Universal a coisa é muito diferente pois este personagem bíblico chegou à bonita idade de 969 anos.

 Matusalém, Metusalém ou Metusalah (do hebraico מְתוּשָׁלַח) foi o homem mais longevo que marcou lugar nas páginas sagradas seguidas especialmente pelos judeus. Pois o velho que quando jovem vendia cautelas, anda hoje à roda, o primeiro prémio é de cinco mil contos, num local próprio, na esquina dos Restauradores com a rua Jardim do Regedor onde ficava a antiga sede dos vermelhuscos encarnados, hoje conta as horas, os dias e quiçá os anos, e vê passar os navios em especial os de cruzeiros sentado à sombra do Adamastor no Largo de Santa Catarina.

 

Não é preciso perguntar-lhe quantos anos tem – ele sabe-os bem – pois, tal como as damas subtrai-lhes uma quantidade deles. E a cara sulcada por muitos arados, daí as rugas, informa, muda, que o velho tem muitos anos. E os que passam paulatinamente, reformados a quem o Passos e o Portas tiraram uma fatia das pensões, miram o velho mas não se detêm a fim de apanhar lugar nos bancos de madeira e ferro que são poucos. Nos outros – nem pensar.

 

Um dia vou perguntar-lhe se sabe quem foi o Matusalém e tenho a certeza de que me vai responder que não o conhece mas se calhar é gajo para ter jogado no Oriental. Não se recorda mas tem a certeza que não foi futebolista quando os Grandes incluíam o Belenenses.

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Um Rolex de ouro

por Henrique Antunes Ferreira, em 10.05.16

  

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O tipo sabia que eu tinha regressado de Goa. Eu ia embrenhado a pensar no Centeno e nos números da execução fiscal, que tinha aprendido no ministério das finanças onde estivera com o Sousa Franco. Disse que era meu amigo desde os tempos da escola Mouzinho da Silveira, usa um bigodinho cinéfilo, por cima do lábio superior, óculos de aros metálicos, Ray Ban falsíssimos. Mas eu não o conhecia. Devia ser das dezenas de anos atrás em que tal acontecera quando a Dona Clélia Marques nos impunha decorar e recitar todas as linhas férreas de Portugal e todos os rios do país e seus afluentes do Norte para o Sul. Sabia isso - mas não o conhecia. O homem estava bem documentado…

 

Entretanto não lhe ligava muito pois o raio das péssimas declarações de Passos Coelho que julga que ainda é primeiro-ministro levavam-me a apostrofar o fel que destilava do chefe do PSD chateavam-me. Há duas espécies de perder como diria Monsieur de La Palice: a boa e a má. Coelho escolheu a segunda. Mandou às malvas o fair play – se é que algum dia o teve. E o homem que eu não conhecia continuava a debitar o seu longo discurso que me entrava por um ouvido e saía pelo outro.

 

Citava nomes diversos, morava na estrada das Amoreiras e até conhecia o senhor Alfredo, porteiro do meu prédio na rua Filipe da Mata e marido da senhora Ângela, que era a mulher-a-dias da nossa casa. O senhor Alfredo, militante da boa pinga, de todas para ser mais correto, era quem me levava à escola, parando por minutos na taberna Monção ali ao largo do Rego, juntinha à estação de comboio, para meter combustível: dois copos de três de palhete. Do Cartaxo.

 

Perguntei-lhe o nome, disse-mo, também não o conhecia, excepção à regra (todas as têm), pois sou bom de memória. Afinei. Que desejava? Rapou do bolso, olhou em volta, um lenço que embrulhava um relógio de ouro, um verdadeiro Rolex. Por uns euros coisa pouca, praí uns trezentos e cinquenta euros sem cêntimos, muito menos IVA, preço para amigos companheiros de carteira. Interrompi-o; desses comprei em Hong Kong uns vinte para oferecer a amigos no Carnaval. Custaram-me todos menos de quarenta euros.

 

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Foi-se embora descoroçoado mas uns passos depois voltou-se: cabrão, vê-se logo que és primo do Costa, do Jerónimo ou da Catarina!. Como sou bem- educado não lhe retorqui. Dirigi-me a um polícia que falava ao telemóvel, deixei-o acabar a conversa com a querida, e contei-lhe o acontecido e o digníssimo agente da autoridade respondeu-me: é a vida. Depois digam que o Guterres foi um mau primeiro-ministro. E o Marcelo como PR também. 

 

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"Irmãos" até quando?

por Henrique Antunes Ferreira, em 04.05.16

 

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Vista de Goa a extraordinária mobilidade e habilidade de Marcelo Rebelo de Sousa deixava-me entre o admirado e o preocupado. Primeiro porque os blocos informativos passados pela RTPI ao serem os mesmos da sede punham-me a par do desempenho do PR. A admiração prendia-se com a velocidade que imprimia ao exercício das suas (?) funções. Era uma espécie de Deus que dizem que está em toda a parte. O anedotário português dizia que a diferença entre o Pai Celeste e Mário Soares é que este esteve. A blague pode aplicar-se a Marcelo, só que ele ainda está no princípio embora já tenha partido da pole position

 

Por outro lado a preocupação está na maquiavélica aceleração do cidadão sedeado em Belém; um destes dias com tamanha velocidade ultrapassa os poderes que a Constituição lhe outorga e está tudo estragado. Menos para o condutor que não ligou aos sinais de proibição de 120 quilómetros na auto-estrada que deliberadamente leva o ponteiro do conta-quilómetros encostado aos 250.

 

MRS sempre foi assim: com uma actuação frenética que aliada à enorme cultura que possui (coisa que o seu antecessor nem sabia o que era..) e à facilidade de contacto humano (ver parênteses anterior) e ainda ao dom da palavra fazem dele um tribuno particularmente hábil e portanto perigoso. Há que desconfiar das afirmações que tem vindo a fazer supostamente apoiando o Governo.

 

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E não se deve esquecer que a sua primeira viagem oficial foi a Roma onde se encontrou com o Papa Francisco, ambos especialistas em afabilidade. Tem muito significado esta visita pois é o também primeiro sinal que Marcelo quer estar bem com Deus, mas não enjeita também estar bem com o Diabo. Se se duvidasse da sua habilidade este encontro resolvia a questão. É a perfeita imagem da sinuosidade do Presidente da República 

 

Mas Costa tem de se pôr a pau com os sorrisos e a simpatia do PR. Eles vão acontecendo e repetindo-se enquanto vai tudo bem; mas se as coisas começarem a dar para o torto então surgirá o real Marcelo que pelos vistos ainda é virtual.

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