por Henrique Antunes Ferreira, em 24.03.16
Antunes Ferreira
O sol daqui não brinca em serviço: tal como o anúncio de antigamente queima que se farta. Em Benaulim, praia bonita, sossêgada Johncy, Bar & Restaurant, food multicuisine, onde os waiters já nos conhecem, quase já sabem o que é nosso breakfast tão variado quanto as propostas que o menu traz. Penso que eles jogam ao par ou no, com a nossa escolha o que lhes rende umas rupias mais. Virados para o mar ali mesmo à beirinha a duzentos e cinquenta metros de distância (na monção e maré cheia o oceano galga soberano até ao edifício...)
Tirámos assinatura durante os 26 dias em que lá estivemos, duma mesa para quatro - por bastantes vezes chegaram convidados - mesmo junto ao corrimão que a separa da areia. Todos os dias vamos até lá nos táxis da família Almeida, Aleixo Caridade & filhos. Vêm buscar-nos ao Ocean Grove, em Colvá, magnífica urbanização onde fica o apartamento com A/C (ar condicionado), do padre/primo Francisco que quando lhe perguntei já alguns anos quando era a renda, me respondeu 20 padre-nossos e 30 ave-marias....
Não creio que seja caro pois tem guarda fardado ao portão de entrada, jardim infantil e outras mordomias. O primo, mais do que padre, exerce o seu munus na Austrália e só vem a casa em momentos especiais. É um senhorio bué da fixe! Há uns anos tentou vir para uma paróquia de Lisboa, mas não chegou a... chegar. António Ribeiro, meu Amigo do peito e da RTP, ainda não era Patriarca; se já o fosse cantaria o galo por outra pauta e o primo/sacerdote estava em terra de fala lusa.
Adiante, que isto é uma estória de pasmar, e um dia destes conta-la-ei com todos os efes e erres. Volto ao enunciado do dia-a-dia. Os nossos motoristas vêm buscar-nos às dez e meia da manhã e trazem-nos de volta a casa pelas cinco horas p.m. O que quer dizer que também almoçamos no Johncy. Por isso temos tratamento VIP, pois até o patrão que diz umas coisas em Português já veio à nossa mesa perguntar-nos o que queríamos mais. E o empregado-conhecedor: first a bottle of water and twenty five kilos of ice... O Senhor Pavlov não é para aqui chamado; seria um despautério coloca-lo neste paradisíaco local. O mesagarfo nada tinha a ver com a campainha do russo. Sejamos francos: não se tratava de reflexos condicionados; era apenas o repetir o pedido habitual do consumidor.
Depois do banho e do astro-rei com o papo para o ar, segue-se um almoço frugal pois o pequeno (?) almoço fora tardio. Especializei-me veg pakora que, também prometo, explicarei em seu tempo. Entretanto chegam as vendedoras de pulseiras e colares em prata "verdadeira", tecidos diversos e multicoloridos, canetas alusivas, um bric-a-brac que motiva ou um não forte ou um começo de discussão sobre preços. A Raquel é uma exploradora da classe ope..., perdão uma especialista no bargain - não seja ela goesa. Isso diz tudo; tem um procedimento que me põe os cabelos em pé: face à quantia pedida oferece vinte por cento - do valor solicitado.
Aí começam as negociações enquanto leio "Os cães da guerra" de Frederick Forsyth que conta uma estória de mercenários. Deleito-me também a assobiar para o ar, fingindo que não é nada comigo; e até é. Vem o gajo das massagens sem mácula e o que oferece tatuagens, verdadeiras, a picar, ou falsas por decalcomania que duram at least a month, with bain. Enxotam-se, mas algumas são tão coloridas que chamam a atenção de duas senhoras da mesa ao lado, que são inglesas usam bikini e pesam no mínimo uns cem quilitos. O marido duma - ou será das duas, num ménage à trois (?) com excesso de peso - fuma sofregamente um charuto enquanto lê o Times de quatro dias atrás.
São uns dias bem passados no ripanço: na areia junto ao oceano um grupo da malta oferece um passeio de paragliding que já experimentei e até repeti. (ver outra croniqueta sobre o tema) e há uma moto- náutica que se pode alugar. Na praia de Benaulim não se encontram vacas (sagradas?); é um local respeitado e respeitável, onde há turistas de raças e qualidades diferentes. Indianos de outros estados que aqui vêm passar uns dias de férias e beber álcool - nos de origem a venda e o consumo público são proibidos - e aqui desforram-se.
Há parzinhos ocidentais de mãos dados e óleo para o sol protecção alta, pois vieram despachados na versão e cor leitosa e querem alcançar o nirvana moreno. Há ainda uns senhores abonados, de Rayban escuros, que se abraçam às meninas suas secretárias; em casa as digníssimas esposam julgam que o caro-metado foi participar num workshop na Ericeira. Mas, como se entende não foram; estão em Benaulim a gozar que nem uns frades de pança repleta e, ainda por cima (ou por baixo?) agarrados às maminhas das eficientes funcionárias para todo o serviço. E finalmente há quem vá passear na areia, inclusive à beira-mar, os indianos, eles de fato e gravata, elas de vestido à moda dos anos cinquenta.
Vêm senhoras de sari a tomar banho vestidas nas salsas ondas. É uma praia como todas as praias só que esta é em Goa. A Raquel chama-me para que eu saia do sol. Estás vermelho que nem uma lagosta. E digo só para mim: com o calor que está sou uma lagosta suada - mas sem panela...