De Rui Espirito Santo a 28.04.2016 às 16:00
Um pouco mais de “rigor histórico" :
Apesar da enormíssima diferença de meios de combate, Salazar tinha ordenado que a resistência devia prolongar-se até ao último homem e que deviam ser feitos “todos os sacrifícios” a fim de salvar a honra portuguesa.
A estratégia de Vassalo e Silva retardou seriamente o avanço indiano, levando a que a Índia só conseguisse ocupar efectivamente todo o territórios dois dias depois da rendição militar portuguesa.
O regime salazarista não reconheceria nunca a perda dos territórios e ter-se-ia que esperar até 31 de Dezembro de 1974 para que esse reconhecimento tivesse lugar com a assinatura de um acordo entre Mário Soares e a União Indiana.
Recordemos-nos de que a União Indiana não tinha sequer “direitos históricos” sobre os territórios já que não existia à data da chegada dos portugueses e que, provavelmente, a maioria dos seus habitantes estava satisfeita com a presença portuguesa, já que grande número deles participava na administração do território e estava alistado nas forcas militares e policiais do Estado da Índia.
No contexto pós-revolucionário de 1974, não haveria provavelmente muito a fazer, mas à luz do Direito Internacional a invasão da “Índia Portuguesa” foi ilegal e não devia ter tido como desenlace o reconhecimento da “legitimidade” da Invasão. Mas foi e essa é uma das várias heranças do legado político de Mário Soares…
… Isto, já para não falar da vergonhosa cedência de Angola e Moçambique, na sua entrega a (amigas) forças unilaterais desses territórios, sem qualquer tipo de referendo interno, o que os levou a uma guerra prolongada ! ... A tal dita, ironicamente, "Descolonização Exemplar" !
"O seu a seu dono", Amigo Henrique ! ... Um Grande Abraço !
EXPLICAÇÃO LÓGICA DOS ACONTECIMENTOS.
OBRIGADA, RUI.
Teresinhamiga
Já estás a participar na polémica: muito obrigado. Continua que estás a agradar... :-))))))
+ qjs do Leãozão
Ruiamigo
Ainda bem que falas em “rigor histórico”. Usemo-lo então.
Salazar tinha a percepção, como bom campónio promovido a “chefe”, de que se Portugal perdesse o “Estado Português da Índia” abriria a caixa de Pandora; o efeito dominó levaria a que se seguissem (como aconteceu) as restantes colónias “promovidas” apressadamente a “províncias ultramarinas” (e Angola e Moçambique elevados a “estados”) para tentar enganar as Nações Unidas… Claro que a esperteza pacóvia não iludiu ninguém.
Sentado em São Bento no seu gabinete espartano, Oliveira Salazar enviou uma mensagem para o Governador-geral de Goa, o general Vassalo e Silva, que dizia textualmente: "Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos ..."
A disparidade de forças – que ele bem conhecia – era abissal. Para eliminar os 3.500 (mais ou menos) militares portugueses e 900 polícias goeses, os indianos atacaram com mais de 54.000 efectivos, compreendendo uma esquadra naval e esquadrilhas de aviões. Daí que a mensagem do Dr. Salazar fosse incongruente, jesuitica e maldosa quando mandava para a morte as guarnições portuguesas de Goa, Damão e Diu. Aproveito um artigo bem feito inserto no blogue “Quintus” de índole militar:
«Já desde a década de 40 que a Índia reclamava a saída de Portugal de Goa, Damão e Diu, mas o apoio britânico e norte-americano às posições portuguesas refreou tais ânimos. Na década de 50, o primeiro-ministro indiano Nehru, que, em 1950, reivindica formalmente pela primeira vez os territórios administrados por Portugal, a quem propõe a abertura de negociações. Salazar recusa.
Anos depois já na década de 60, animado pelo começo da guerra de insurgência em Angola, Nehru declararia que a Índia “não estava disposta a tolerar a presença dos portugueses em Goa, ainda que os goeses os quisessem lá”…
O fim da Índia Portuguesa começou na noite de 17 de Dezembro quando mais de 50 mil soldados da União Indiana atravessaram a fronteira e recorrendo a amplos meios blindados, de artilharia e aviação (com os bombardeiros de origem britânica Canberra). As forças indianas tinham armas automáticas (..) enquanto que a arma padrão portuguesa na Índia era a espingarda Kropatchek de 1892, uma arma checa que havia que recarregar. Possuíam também espingardas Mauser, algumas raras metralhadoras ligeiras Drayse e MG44 e pistolas-metralhadoras nacionais FBP.
Ainda antes da invasão indiana começar Salazar tentou activar a dita “Aliança Britânica” pedindo a 11 de Dezembro auxílio britânico. Mas esta recusou, alegando que a Aliança tinha limites e que a Índia era um membro da Commonwealth. (...)
A operação terrestre era apoiada no mar, por uma grande esquadra naval, comandada por um porta-aviões. Contra esta poderosa força terrestre, aérea e naval, Portugal nao contava com meios aéreos (aliás muitos militares portugueses viram então o seu primeiro avião a reacção), escassos meios navais e pouco mais de 3500 militares, goeses e portugueses e 900 polícias goeses. Apesar deste desequilíbrio, Salazar tinha ordenado que a resistência devia prolongar-se durante pelo menos 8 dias, prazo que estimava suficiente para mobilizar um (inexistente) apoio internacional. Tentou-se reclamar o apoio do rival paquistanês, mas tudo isso falhou.
E a invasão consumou-se. Portugal estrebuchou, mas isto não lhe valeu de nada. Era efectivamente o princípio do fim do Império Português que depois do 25 de Abril já não era possível manter. O MFA queria a Liberdade a Portugal – como manter as colónias? O grande culpado da descolonização um tanto apressada era António de Oliveira Salazar que não conseguira entender ( ou não quisera entender) os Ventos da História.
A descolonização.tinha, não poderia ter sido de outra maneira As paredes de Lisboa e as de todo o país estavam cheias de slogans – “Nem mais um soldado para as colónias!” O termo “descolonização exemplar” significava a “possível”
Mário Soares desde sempre um anti colonialista fez o que podia – e que tinha de fazer – actuar de forma a colaborar na descolonização, tal como o falecido Almeida Santos, Vasco Vieira de Almeida e muitos outros sobretudo militares. Incluindo eu próprio.
Abç do Leãozão
De Rui Espirito Santo a 03.05.2016 às 13:25
Exactamente, Henrique !... Não tiraria nem acrescentaria uma vírgula ao que escreveste ! É isso mesmo ! ... e tal como eu referi !
Salazar preferiria que não sobrevivesse um único militar nem um vaso de guerra e teimoso e casmurro como era, nunca entregaria A Índia Portuguesa por nada deste mundo ! ... Era um lunático !!! ... mas foi vencido pela força do "inimigo" !
Mário Soares, sim, esse optou pela legalização de um facto, na prática consumado (mas contra o direito internacional), mas foi ele de facto que assinou a entrega !
Um grande abraço ! ... e já são horas do regresso ! Então ? ...rsrs
Ruiamigo
Chego a delirar quando se estabelece uma "querela" aqui. Adoro polémicas - creio que já o sabes. Se isto é o começo de uma - óptimo!
Os factos que enunciei, tão escalonados quanto me foi possível resultam da muita documentação - e, também, da investigação mais cuidadosa- Creio mesmo que entre os jornalistas portugueses serei o que mais se tem debruçado sobre o assunto. Do que estou orgulhoso, e sem me pôr e, bicos de pés. Um elefante não pode dançar em pontas...
Mas, para além do tema: "Estado Português da Índia - sua construção histórica desde Vasco da Gama até Dezembro de 1961" sobre o qual até já palestrei, a descolonização apaixona-me. Deixa-me que te diga: quando em 1974 decidimos, a Raquel e eu, depois do 25 de Abril do mesmo ano, regressar logo a Portugal disseram em Luanda (até familiares...) que éramos da UFA, União dos Fugitivos de Angola.
Porém, o nosso lugar era cá - e por termos abandonado Angola em tempo, ainda que com a mala às costas trazendo os livros e 70.000 escudos, resultados e receitas astronómicas do "colonialismo" dos Antunes Ferreiras, não fizemos parte dos chamados "retornados".
Tenho de acrescentar que depois, já em Lisboa, tivemos "acampadas" no nosso novo e modesto apartamento 17 (sublinho DEZASSETE) familiares, entre mulheres, homens, velhos, velhas e crianças, esses sim retornados e os mesmos que nos tinham acusado de sermos da UFA...)
A Raquel teve até de pedir na TAP (onde trabalhava pois fora transferida atempadamente e sem cunhas, de Luanda para Lisboa) mantas utilizadas aos quadrados azuis, lembram-se? que tinham sido retiradas dos aviões pelo uso intenso que tinham suportado.
Eu estive desempregado (na única vez na vida!) seis meses em busca de emprego até o Mário Sottomaior Cardia para integrar a redacção do "Portugal Socialista" onde ao fim de uma semana os jornalistas que ali trabalhavam propuseram ao director Cardia que, face aos meus conhecimentos fosse nomeado Chefe da Redacção. Espero que Ruiamigo não entendas isto como auto-elogio estúpido...
Das dificuldades imensas por que passámos (tínhamos já três filhos, o Miguel com dez anos, o Paulo com oito e o Luís Carlos com cinco) que nunca revelei por escrito, faço-o agora porque julgo que as mereces saber, só os Antunes Ferreiras souberam - e os Amigos que muito nos ajudaram...
Portanto da descolonização sempre a tentei entender e sobre ela escrever. E foi o que fiz. Nesse contexto tive de admirar Mário Soares que fora meu professor de História quando eu tinha 13 anos (em substituição da docente no Camões que fora ter um filho e nunca mais voltara...)
Sempre adorei a História, mas o Mário o que me ensinou foi...política) Fiquei ligado a ele para a "eternidade" e penso que o saldo entre qualidades e defeitos pende obviamente para os primeiros, ainda que tenha por vezes um "mau feitio". Foi o meu "pai político"...
O seu papel na descolonização possível teve a maior importância pois curto era o tempo para a concretizar. No caso de Goa, Damão e Diu, assinou o tratado entre Portugal e a Índia, para reconhecer de jure o que estava consumado de factum. Portanto para mim não foi um traidor, bem pelo contrário. E o seu nome já está na História, gostem ou não gostem dele. Eu - gosto
Já vai longo este texto que trouxe à luz coisas que se tinham alojado no meu íntimo. Disso te peço desculpa , do tempo que te roubei. Espero que esta troca de opiniões se transforme em polémica... Por isso aqui deixo o convite a quem já comentou um assunto que ainda nem saiu do adro... Participem, sempre serão bem vindos.
Qjs da Raquel e abç do Leãozão
De Rui Espirito Santo a 03.05.2016 às 21:34
hehehe... Polémica , amigo Henrique ?... Não vejo , nem motivo causa, nem ela em si mesma !!!...
Nem entendo este teu post, que foge completamente ao assunto de base ! ... Nada disso estava em causa !
Se leres bem os meus comentários e o teu anterior, ambos estamos perfeitamente de acordo sobre o que se passou em Goa Damão e Diu e sobre as acções dos seus intervenientes na
época e mais tarde !
... O que escreveste na primeira resposta, confirma inteiramente o meu comentário e estamos em perfeito acordo e sintonia ! :)
Agora se te referes à admiração por Mário Soares, desde há uns 20 anos, ai aí devo dizer-te, muito franca e abertamente que estamos em campos opostos ! :(
Admirei-o muito até aos anos 80 a 90, mas a partir daí não e nesse aspecto creio estar no meu pleno direito !
Não gosto, porque não ! :)))
... E sobre "polémica" (relativa ao assunto de base), acho que nada teremos a acrescentar mais ! Estamos de acordo (nos comentários) !
De resto , tudo bem, Amigo Henrique ! :))) ... Continuaremos amigos , apesar de gostares muito do "Marocas" e de eu não ! rsrsrs
Um Abraço ! :)) ... e olha que não vou "alimentar" qualquer tipo de desacordo ! hehehe ... (venha outro assunto! rsrs)
Ruiamigo
Dizes que de comentários já basta e que não vais "alimentar" qualquer tipo de desacordo: estás no teu pleníssimo direito de assim fazer; gostava que assim não fosse - mas é a vida...
Quanto ao Mário Soares estamos entendidos: eu gosto, tu não...
Se todos gostássemos do amarelo era um Mundo chato :-)))))
Abç do Leãozão
